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Tecnologia e investimentos: Irrigação intensifica setores do agronegócio no Estado do Ceará





A implantação dos perímetros irrigados, associada a outras iniciativas, tem impulsionado o setor
O Perímetro Irrigado do Tabuleiro
 de Russas é o que mais cresce no Ceará
RODRIGO CARVALHO

Limoeiro do Norte A importância da produção agrícola no Ceará está longe de ser a mesma de dez anos atrás. Apenas dizer que hoje "é maior" não dá a dimensão do crescimento da economia rural, que ganhou mais relevância no Produto Interno Bruto (PIB) cearense e colocou o Estado entre os principais exportadores de frutas do País. O Ceará saiu da 12ª para a terceira posição no ranking nacional do setor, alcançando U$ 102,5 milhões em exportações de frutas frescas. Há um fator considerado o grande responsável: investimento e ampliação da agricultura irrigada. A "economia verde", implantada no sertão do Ceará na forma de perímetros irrigados, e a segurança hídrica para o setor estão mudando cara e conceito de um fenômeno da história do Nordeste: a seca.

Tanto mudou que os tradicionais grãos - arroz, feijão e milho, principalmente - estão perdendo espaço para as frutas, cada vez mais rentáveis e pautadas para exportação. A produção total de grãos em 2010 foi de 336,7 mil toneladas, uma queda em relação ao ano de 2009, que foi de 781 mil toneladas.

Já produção de frutas apresentou, em 2010, um crescimento de 0,66% em relação a 2009, alcançando um volume de 1.061.305 toneladas. Os grãos tiveram um feito maior que esse em 2006, com a produção de 1.145.557 toneladas. Depois disso, a produção nunca foi a mesma. E a menor dependência dos fenômenos meteorológicos, aliada às pesquisas para aumento da produtividade, tem dado maior segurança ao crescimento da fruticultura.

O Ceará é o Estado do Nordeste com maior número de perímetros irrigados do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs): 14 de um total de 37. Alagoas e Sergipe, por exemplo, não pontuam na lista. Fora isso, existem as grandes fazendas de empresas, a maioria com olhos para a exportação.
A atemoia, uma variação da ata cultivada na
Chapada do Apodi, é uma das frutas que têm conquistado
cada vez mais espaço na produção agrícola cearense,
a partir de investimentos regionais
MELQUÍADES JÚNIOR

Tantos perímetros resultam em uma diversidade de culturas cultivadas, dependendo da disponibilidade de água, do solo e do clima em cada região.

Mas estes dois últimos fatores têm perdido força quanto mais ganha corpo o conhecimento tecnológico. Em outras palavras, o Ceará produz de arroz a uva, nos mais diversos lugares, inclusive onde menos se espera.

A região do Vale do Jaguaribe tem a maior importância da agricultura irrigada para o Ceará. Não só da tradição (está em Morada Nova o primeiro perímetro irrigado do Dnocs no Estado), mas principalmente do potencial e do crescimento registrado pelos perímetros-irrigados Jaguaribe Apodi (entre Limoeiro e Quixeré) e Tabuleiros de Russas (entre Limoeiro, Russas e Morada Nova). Eles respondem por mais da metade de todas as frutas frescas exportadas no Estado e, portanto, tem significativo peso no PIB cearense.

Participação

Banana, maracujá, melão e melancia têm a maior participação na produção de frutas no Ceará. Com 28,4%, a banana teve, em 2010, o maior Valor Bruto da Produção (VBP), gerando R$ 213 milhões de produção.

A pujança do agronegócio cearense está representada no perímetro novo e que mais cresce. De 2010 para 2011, o Valor Bruto da Produção do Perímetro Tabuleiros de Russas aumentou 59%, chegando a R$ 53 milhões. Nesse período, a produção teve aumento de 40,9%, com 43,7 milhões de toneladas. O Distrito de Irrigação do Perímetro Tabuleiros de Russas (Distar) é, em miúdos, a "menina dos olhos" do agronegócio cearense.

O local tem espaço para mais crescimento, daí o interesse dos produtores. De acordo com Wandemberk, gerente do Distar, a alta competitividade dos produtos, o investimento em tecnologia e pesquisa, além de trabalho conjunto dos pequenos empresários produtores e novos produtos são fatores que explicam o desempenho recente. O Açude Castanhão e o Canal da Integração ("Eixão das Águas") ampliaram em 40% a disponibilidade de água para a agricultura irrigada, dando sustentabilidade à oferta de água para esse setor, presente em poucos Estados do Nordeste.

Concentração

14
perímetros irrigados, do total de 37 que existem no País, estão instalados no Ceará, conferindo maior segurança hídrica ao Estado

0,66%

foi o crescimento pelo qual a produção de frutas passou, no Ceará, em 2010, em relação ao ano anterior

Frutas de clima temperado são cultivadas no CE

Limoeiro do Norte Um clima semiárido e frutas de clima temperado. Entre as fases de experimentações e o sucesso no processo de adaptação de culturas adaptadas a outra temperatura, está o trabalho de engenharia e tecnologia nos centros de pesquisa no Ceará. Nada de laboratórios muito sofisticados, mas as escolas de ensino tecnológico profissionalizante tem propiciado mão de obra mais qualificada para o agronegócio no Ceará.

Dessa forma, algumas culturas como ata, uva, figo e até maçã têm sido produzidas com sucesso em solo cearense, e pode ser uma questão de tempo para assumirem um lugar de destaque na produção. O engenheiro Daniel Vidal produz ata e uma variação, a atemoia, em seu terreno na Chapada do Apodi.

Encontrou uma forma de produzir o ano todo: implantou a técnica da polinização artificial em seus pés de ata. O trabalho cuidadoso tem o auxílio de jovens da própria região com capacitação tecnológica. O grande celeiro dessa mão de obra é Instituto Federal do Ceará, que tem um campus em Limoeiro.

Dividida em quadrantes, a área segue sistema de rodízio, permitindo que enquanto um lote esteja em desfolha um outro possa estar em plena época de colheita. Por mês há uma produção média de 12 mil quilos de ata, abastecendo supermercados em Fortaleza, mas fornecendo também para Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte.

"Não usamos mais herbicida. E o controle que fazemos na cultura nos permitiu uma redução de 50% a 70% no uso de agrotóxicos", comemora Daniel Vidal, acrescentando que mesmo assim as plantas estão mais protegidas. A fazenda Kabocla participa do experimento-piloto da Produção Integrada de Ianonáceas, desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Tropical.

Sustentabilidade

Atividades como a desenvolvida por Daniel são apontadas pela Embrapa como o caminho para uma economia agrícola mais sustentável, e que pode ser seguida mesmo nas atividades produtoras de bem maior escala. O pensamento em projetos inovadores tem levado a produção de pecuária leiteira para os perímetros irrigados, com uma rentabilidade muito maior do que quando o gado é criado em áreas de pasto seco. Nesse momento entra um elemento decisivo: a água em abundância nos perímetros irrigados.

O agronegócio do Ceará em 2010 atingiu a cifra de U$ 445,8 milhões, um crescimento de 9,3% em relação a 2009.

REPÓRTER: MELQUÍADES JÚNIOR
Fonte: Diário do Nordeste