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Vale do Jaguaribe - Criatividade inova peças artesanais em comunidade de Russas

Os desenhos são feitos com lápis e,
depois, o cano é furado para a luz passar
As peças têm o selo da Associação Carnaubeira e também podem ser encomendadas pelo site da organizaçãoLimoeiro do Norte Nem só de água e esgoto vivem os canos PVC. A criatividade artesã tem criado luminárias decoradas e gerado renda em Russas, no Vale do Jaguaribe. O desenhista e artesão, Adauto Neto, decidiu viver do negócio, vendendo as peças até para Fortaleza.

As luminárias têm o selo da Associação Carnaubeira, responsável pela difusão de artistas cearenses e suas produções. Em Jaguaribara, as mulheres de pescadores estão aumentando a produção de utensílios com couro de peixe. Favorita na mesma jaguaribana, a tilápia também é matéria-prima de bolsas, cintos e outros utensílios com couro.

"Eu vi na Internet alguns modelos de luminárias feitas com canos, achei interessante e pensei: eu posso fazer, e acredito que até melhor. Aí corri atrás". Adauto Neto aproveitou que o pai,
pedreiro, tem todo tipo de ferramenta em casa e
concretizou o projeto.
Adauto Neto, de 23 anos, afirma que,
 em quatro meses de trabalho, chegou a
 produzir aproximadamente 150 luminárias.
 As encomendas não param

Bolsas, cintos, bolsas, porta-moedas e
 até sandálias do couro da tilápia são
 produzidos na Associação dos Produtores e
Processadores de Peixes de Jaguaribara
As luminárias de cano PVC estão fazendo tanto sucesso que está difícil de dar conta. A produção acontece na garagem de sua casa, e ele já precisa contratar auxiliares. "Sempre tive interesse por trabalhos manuais. Depois que fiz a primeira peça, não parei mais. As pessoas começaram a gostar, apareceu alguém para comprar e depois decidi viver só disso", diz Neto, que já produziu cerca de 150 peças em quatro meses.

Como sempre gostou de desenhar, coloca a criatividade (e as sugestões dos clientes), desenha a lápis no cano e, com um auxílio de uma furadeira, vai produzindo furos e formas às frestas de luz. Uma de suas luminárias preferidas tem São Jorge no cavalo com sua espada; outra tem desenhos infantis e nomes de pessoas. As peças são encomendadas para casamentos, chás de bebês, aniversário e, para o dia das mães, já foram feitas dezenas de luminárias com a imagem de Nossa Senhora de Fátima.

Preços
As peças variam de R$ 60 a R$ 600. A maioria das compras é feita por clientes individuais. "Mas eu faço luminárias em todo tipo de tamanho. Até mesmo em grandes tamanhos, para decorar eventos e casas", afirma. Suas peças estão em exposição e à venda no site da Associação Carnaubeira, do Distrito de Flores, também em Russas.

Conforme já noticiado no Caderno Regional, a Associação desenvolveu um selo cultural para divulgação da arte cearense de forma colaborativa. Assim, uma loja virtual aproxima, pela Internet, a sociedade em geral de produtos pouco conhecidos ou que precisam de mecanismos próprios para chegar ao conhecimento do grande público: grupos musicais, cordéis, gibis, livros e peças de artesanato. Os produtos podem ser vistos no site http://www.somdascarnaubeiras.com. "A gente continua na procura de mais produtos para divulgação e venda na loja virtual. O Neto tem uma qualidade estética muito boa, é um produto funcional, o que é importante, e é um artista local que merece o conhecimento", fala Talvanes Moura, presidente da ONG.

A loja virtual está divulgando o selo primeiramente por meio de camisas (podem ser adquiridas no site) com quatro ícones da cultura nordestina: o cata-vendo, a carnaubeira, o bumba-meu-boi e o violeiro.

"O pessoal da Carnaubeira faz um trabalho muito bom de apoio aos jovens e à cultura local. Eles convidaram para fazer parte do selo cultural e achei uma excelente forma de divulgar o meu trabalho", ressalta o artesão. De desenhistas para fazedor de luminárias personalizadas, Adauto Neto pretende até o mês de agosto adquirir um estabelecimento para produção e venda dos produtos.
Couro da tilápia se transforma em arte

Jaguaribara
Do peixe pescado, tudo dá. O peixe de água doce é prato certo na mesa do sertanejo como o de água salgada é para os povos do mar. A tilápia produzida no açude Castanhão continua conquistando espaço no Estado, passando a ser exposta em várias peças nas vitrines cearenses.

Direto das mulheres de pescadores, bolsas, cintos, porta-moedas e até sandálias do couro da espécie são produzidos na Associação dos Produtores e Processadores de Peixes de Jaguaribara e Lages (Aplages). Embora recente, a atividade continua em fase de expansão. Com o apoio do Sebrae, as artesãs melhoram a venda, a produção e a customização dos produtos.

Ainda é uma atividade complementar à lida doméstica e na agricultura, mas está crescendo o interesse por adornos e utensílios feitos com o couro da tilápia, incluindo portarretratos, porta-cadernos e até álbuns de fotografia. A Aplages reúne tanto pescadores quanto artesãos.

Feiras de negócios
Este segundo segmento está mais especificamente localizado no Grupo Kardume de Artesanato, responsável pelo beneficiamento do couro. Dezenas de peças são produzidas todo mês e levadas para a venda em feiras de negócios e lojas e encomendas de clientes em outras cidades. A preocupação do grupo é vencer a luta contra os atravessadores. Na opinião da artesã Maria Helena, é uma forma de valorizar o próprio trabalho, evitar que alguém ganhe em cima da criatividade alheia.

Os objetos variam de R$ 3,00 (um chaveiro em forma de borboleta) a R$ 90,00, no caso de bolsas femininas. As artesãs tiveram a parceria do Sebrae na organização, uma estratégia para atrair clientes e maiores vendas.

É a busca pela originalidade, combinado ao associativismo. Dessa forma que membros da Aplages participaram de capacitação desde a venda do pescado à comercialização das peças de couro.

Estratégia
Esse aproveitamento em forma de beneficiamento do couro existe em poucas comunidades pesqueiras do Brasil, mas é uma estratégia contra o desperdício de uma parte do peixe que, antes, era destinado ao lixo.

Em estágio mais avançado que no Ceará, na Amazônia, até a "alta costura" já foi conquistada pelas bolsas produzidas com couro do peixe pirarucu, contribuindo para a geração de renda.

O Ceará está bem servido da tilápia (é o maior produtor e consumidor do peixe), e o objetivo das artesãs do couro é que melhorem os projetos e as políticas públicas para o desenvolvimento da atividade, que tem várias características para promover uma expansão econômica.

 FOTOS: MELQUÍADES JÚNIOR
REPÓRTER: MELQUÍADES JÚNIOR 
Fonte: Diário do Nordeste-Regional